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Olá Aron, é a Sonja outra vez.
Sei que provavelmente vais estar fora este fim-de-semana
mas pensa no que vamos tocar.
Por favor, temos mesmo que decidir
e depois temos mesmo que praticar. Está bem?
Vai ser divertido, prometo-te.
E por favor liga à mãe. Ela preocupa-se,
mas já o sabes. Até logo. Adeus.
Sexta-feira à noite.
25 de Abril de 2003.
Acabo de entrar nas Canyonlands.
Só eu, a música e a noite.
Adoro-o.
Baseado no livro
SÁBADO
Desfiladeiro Blue John
O guia diz que são quatro horas e meia para chegar até ao ponto de rappel.
Quero encurtar 45 minutos a esse tempo.
Não sei, acho que devemos ir por ali.
E se formos por ali e tivermos que voltar.
Vão para o Blue John também?
Não, vamos para a Cúpula.
- Mas acho que estamos perdidas. - Ela está perdida.
Esperem.
Vamos lá a ver.
- Vocês estão aqui. - Estamos?
Eu sabia isso.
e a Cúpula fica ali.
Posso levá-las até lá se quiserem.
Desculpem, pareço alguém do Sexta-feira 13. Não vos mato.
Só sou um psicopata durante a semana. Hoje é Sábado.
Esta não a posso tirar. É a minha cara.
- Aron. - Kristi.
Permita-me apresentar-lhe a minha amiga Megan.
- Prazer conhecê-lo. - É uma honra.
Que me dizem. Estão perdidas, eu sou um guia.
Sou bom.
- Porque não? - Pode ser.
Por este lado.
Fazes a "ferradura" de bicicleta.
Isso são quê, 32km?
27 no hodómetro.
Pensava que eram 27,7.
Na verdade são 27,8.
És um desses.
- Não sou um desses. - Passas muito tempo por aqui?
É a minha segunda casa.
Estão a ver. Ali está a bifurcação.
Nem teriamos dado por ela. Felizmente encontramos-te.
Quais as probabilidades disso, tendo em conta que estamos no meio do nada.
Exactamente.
Estás no único sítio da América
onde, garantidamente, não dás de caras com um maluco,
e o que é que acontece?
Muito bem.
O guia diz que
o caminho é por aqui.
Mas sei de uma maneira melhor.
A maneira fixe.
Garantidamente,
o maior divertimento possível com roupa vestida.
Se bem que, é melhor sem roupas.
- Ainda é uma escalada mais ou menos. - Nós escalamos.
- E um pouco apertado. - Nós apertamo-nos.
Se nos trazes até aqui
e nos dizes que não és guia nenhum.
Bem, sou engenheiro.
Mas isto é o que quero fazer.
Isso é óptimo. Eu sempre quis ser uma supermodelo.
mas não acho que isso vá resultar.
Credo, e se isto se mexe?
Estão aqui há milhões de anos. Não se vão mexer.
- Claro que vão! - O quê?
Está tudo constantemente em movimento. Só espero que hoje não.
Fantástico.
Muito bem.
Só têm que se lembrar é que vai correr tudo bem.
Meu Deus!
Aron, estás bem? Aron?
Ouve-o. Ele está óptimo.
É um merdas. És um merdas.
Venham. Têm que descer.
Confiem em mim.
Confiar em ti? Vou-te matar Aron Ralston.
Sim, adoras isto.
Bom trabalho.
- Megan, estás a perder tudo. - Anda, é fantástico.
- Foda-se. Foda-se. - Tens que saltar, Megan.
Merda.
- Estás bem? - Bom trabalho.
Nem acredito que acabei de fazer isto.
- Temos que repetir. - Repetir?
- A câmara. - A câmara?
O Blue John,
deve o seu nome a um tipo chamado Blue John que era
o cozinheiro do Butch Cassidy.
Do par Butch Cassidy e o Sundance Kid. A quadrilha Hole-in-the-Wall.
E eles escondiam-se nestes desfiladeiros, acho eu.
Eles também soltavam cavalos selvagens aqui
e depois encurralavam-nos no fim do desfiladeiro.
Era assim que mantinham os cavalos.
Querem tirar outra fotografia antes de ir?
- Sim. - Sim.
Prontas?
Um, dois, três,
Blue John, sorriso azul.
- Ver-vos-ei de novo? - Depende, costumas divertir-te?
Se me divirto? Às vezes.
Amanha à noite vamos dar uma festa se quiseres aparecer.
Sim, devias passar lá. Beber uma cerveja, relaxar.
Estás bem, onde vou?
Fica a cerca de 30km perto de Green River.
Sabes aquele motel velho? Fica por trás.
Vamos ter um ***-Doo insuflável enorme.
- Não dá para não reparar. - A sério? Está bem.
- Foi bom conhecê-las. Adeuzinho. - Adeus.
*** Doo.
Força nisso.
Achas que ele vai mesmo aparecer?
Acho que não entramos nos planos dele.
Gostaste dele.
127 HORAS
Isto é de loucos!
Mexe esta maldita pedra!
Por favor.
Kristi!
Megan!
Kristi! É o Aron!
Pensa.
Foda-se. Merda.
Que merda!
Boa.
A lâmina está cega.
DOMINGO
Vê o tamanho disto meu. Como é que isto veio cá parar?
Então filhote.
Vamos lá.
São 03:05
Domingo,
27 de Abril, 2003
Isto assinala
as 24 horas que
estou preso aqui no desfiladeiro Blue John.
Mesmo onde ele se divide antes da ravina.
Chamo-me Aron Ralston. Os meus pais chamam-se
Donna e Larry Ralston de Englewood, Colorado.
Quem encontrar isto pode ficar com a câmara
por favor tente entrar em contacto com os meus pais e
entregue-lhes esta gravação.
Agradecia.
Estava a descer o Blue John ontem
quando esta rocha calcária
se soltou
e rebolou para cima meu braço,
e agora está preso.
O polegar está com uma cor azul acinzentada.
Está sem circulação de sangue há já 24 horas.
Acho que praticamente, já se foi.
Tenho pouca comida.
Isto são cerca de 300, 400 ml.
E é essa a água que tenho.
Estou mesmo em apuros.
Olá!
Por favor. Está alguém aqui em baixo.
Socorro. Estou no desfiladeiro.
Socorro!
Por favor. Ajudem-me.
Socorro.
Aqui em baixo. Socorro!
Não te passes.
Aron.
Não te passes.
35ºc
21ºc
12ºc
7ºc
Nada mau.
Jantar.
Amanha à noite vamos dar uma festa se quiseres aparecer.
Sim, devias passar lá. Beber uma cerveja, relaxar.
Vamos ter um ***-Doo insuflável enorme.
***-Doo.
Em lata não.
Copo de plástico.
Obrigado.
Talvez tire uma cerveja também.
Tiro sim.
Fala o Aron. Deixe uma mensagem.
Aron, é a mãe.
Esperava apanhar-te em casa.
Estás aí? Estou?
Não é nada urgente.
O Doug está em Nova Iorque, por isso vai ser um fim-de-semana tranquilo.
Liga-me. Beijinhos.
Para onde vais?
Ainda não sei.
Ali mesmo Brion.
Talvez para o Utah ou outro sítio qualquer.
- Diverte-te. - Sempre.
Sempre.
Vamos lá.
SEGUNDA-FEIRA
Assusta-me olhar para mim próprio.
Desculpem, espero que não se importem.
Hoje é segunda.
Azar o dia todo.
Tenho tentado montar uma roldana
a manhã toda mas não funcionou.
Valeu a pena tentar,
mas há muito atrito
e como é uma corda de escalada estica-se demais.
O que me dava mesmo jeito era
uns 20 metros de corda entrelaçada
com 9,8 milímetros de espessura.
Três ou quatro roldanas, uns mosquetões,
uma tala, um berbequim,
e um kit de elevação.
E oito homens robustos para o trabalho pesado.
Isso seria o suficiente.
Tenho
cerca de 150 ml de água.
Que devem me manter vivo até
amanhã à noite.
Com sorte. Mijei duas vezes.
Quase me mijei todo.
O meu corpo está a comportar-se de modo estranho.
da segunda vez mijei na CamelBak.
Cheira mesmo mal.
Mas vai servir.
Deve servir-se frio como se fosse um Sauvignon Blanc.
Nada de fezes.
O que deve desapontar os meus amigos insectos.
Vão ter que esperar.
Vejamos, que mais vos posso dizer?
Há um corvo que passa por cá todas as manhãs.
Costuma passar às 08:17.
Amanhã filmo-o para vocês.
Todos os dias às 09:30
tenho quinze minutos de luz solar.
Sabe bem.
Fui lascando.
Mais para me manter quente que outra coisa.
Começo a pensar que a minha mão
é que está a suportar a pedra.
Por isso se eu tirar uma lasca
ela vai ficar ainda mais presa.
Arranjei um garrote muito bom.
Não tem sido muito útil.
Oiçam.
Não comprem
a ferramenta multi-usos barata feita na China.
Tentei encontrar o meu canivete suíço.
Esta coisa veio como oferta na compra de uma lanterna.
A lanterna também não prestava.
Guardava-o na carrinha para emergências.
Não é que te esteja a culpar, mãe.
Era uma prenda perfeita
para pôr na meia.
Não podias saber que eu acabaria num sarilho destes.
Se formos ver isto depois a câmara tem que estar ligada?
- É isso? - Sim.
Tens que deixar a câmara connosco se quisermos ver algo que tenhas feito.
- Sim. - Bom trabalho.
- Ele está a filmá-la agora? - Soa maravilhosamente, querida.
E estamos a vê-lo agora ao vivo, mas
mas ele vai poder mostrar isto depois.
Vai-te embora.
Não podemos ver só ali.
Muito bem.
É assim mesmo mana.
- Continuo? - Sim, querida, continua.
Amo-te.
Então,
como é que eu entro?
Qual é
o código?
Se te disser
tenho que te matar.
Mas já me mataste.
O código?
Acho que o tenho.
Quem está aí?
Por favor!
Por favor.
TERÇA-FEIRA
Bom dia a todos.
São sete da manhã aqui nas
Canyonlands, EUA.
E esta manhã,
no Pedregulho, temos um convidado muito especial.
o autoproclamado
super-herói americano
Aron Ralston.
Aplausos para o Aron.
Olá. Céus.
É um prazer estar aqui. Obrigado. Obrigado.
Posso dizer olá à minha mãe e ao meu pai?
A Mãe e o Pai.
Não nos podemos esquecer da mãe e do pai, não é Aron?
Isso mesmo.
Olá mãe, lamento muito
não ter atendido o telefone na outra noite.
Se o tivesse feito, talvez te dissesse para onde ia e então,
- provavelmente não estaria aqui hoje. - Isso é certo.
Mas como eu costumo dizer.
O teu egoísmo supremo
é o nosso ganha-pão.
Obrigado Aron. Quer dizer olá a mais alguém?
Ao Brion, do trabalho.
Olá. O mais certo é não ir trabalhar hoje.
Oiçam só este tipo. Esperem.
Chegou-nos uma pergunta
de outro Aron.
no Desfiladeiro dos Falhados, Utah.
O Aron pergunta: "Estou certo em pensar
que mesmo que o Brion do trabalho
avise a polícia terão que passar 24 horas
até eles emitirem um relatório de desaparecido.
O que significa que
não estarás oficialmente desaparecido
até ao meio-dia de quarta-feira
no mínimo".
Acertas-te em cheio, Aron.
"O que significa que
provavelmente estarei morto por essa altura."
Foi o Aron do Desfiladeiro dos Falhados, Utah.
- Como é que sabes tanta coisa? - Vou-te dizer como.
Sou voluntário em serviços de resgate.
Sou uma espécie de
herói duro.
Consigo fazer
tudo sozinho. Percebes?
Percebo perfeitamente.
É verdade que, apesar de,
ou talvez por causa de, seres um herói duro.
Não disseste a ninguém onde ias?
Sim, estás correcto.
A ninguém? A ninguém!
Mãe, Pai.
Gostava de aproveitar este momento para vos dizer
que os tempos que passamos juntos foram fantásticos.
No fundo, não vos dei o devido valor, como sei que podia ter dado.
Mãe, adoro-te.
E quem me dera ter-te devolvido as chamadas.
Uma vez que fosse.
Adoro-vos.
E estarei sempre convosco.
Osso.
QUARTA-FEIRA
Não é nenhum batido gelado.
Parece um saco de mijo.
Vou subir outra vez.
Vestido.
- Ouve. - Podes dizer-lhe
- Espera um pouco. - Diz-lhe.
Estamos preocupadas contigo.
Estamos preocupadas com as tuas escolhas musicais.
Se continuares a cantar "Fish are really Rock"
Nunca vais arranjar uma namorada. Nunca.
- Talvez consigas, mas duvido. - És giro, mais ou menos.
De vez em quando.
Esta bomba é para ti.
Agora vou,
vou testar a tua teoria sobre se é melhor com
ou sem roupa.
Não. Não faças isso.
Não, não.
Por favor.
Não.
- Não. - Ralston, força nisso.
Nem sequer me queres aqui, pois não?
Vou-me embora Aron.
É isso que queres?
É, não é?
Está bem.
Volta.
Vais ser tão solitário, Aron.
46, 47, 48, 49
50! Prontos ou não aqui vou eu.
Vou-me aguentando.
As horas passam muito devagar.
O meu coração
bate muito rápido. Juro que parece que
está a bater três vezes mais rápido.
Tanto frio.
Blue John?
Eu
amo-te.
Aí estás tu.
Rana.
Tenho pensado em ti, miúda.
Sei como sou. Tentei fazer tudo. Como eu era.
- Eu tentei. - Aron, onde estás?
Que estão aqui a fazer? Andy?
Tom? Olá pessoal. Que se passa?
Parecem a quadrilha "Hole in the Wall"
Parvalhões.
Encontrei-te Aron.
Mana, lamento que não possa ir ao teu casamento.
Eu sei que prometi tocar.
Que tocaríamos.
Lamento. Sei que será bom.
08:15, não há corvo.
08:20.
08:30 O meu corvo não veio.
Estive a pensar.
Tudo
- se agrupa. - Vais ser tão solitário.
- Diverte-te. - Sempre.
- Até logo. Sou eu.
Aron, é a mãe.
- Esperava apanhar-te em casa. - Eu escolhi isto.
O Doug está em Nova Iorque, por isso vai ser um fim-de-semana tranquilo.
- Eu escolhi tudo isto. - Liga-me.
Esta pedra.
Esperou por mim toda a minha vida.
Odeio esta pedra.
Toda a sua vida.
Desde que era
um pedaço de um meteorito.
- Há um milhão de anos. - Como é que isto veio cá parar?
No espaço. Tem estado à espera.
Para vir aqui.
Aqui mesmo.
Tenho caminhado para cá toda a minha vida desde que nasci.
Cada fôlego. Cada acção,
tem-me guiado
até esta fenda na superfície exterior.
Aqui jaz Aron Ralston 1975 - 2003
Anda lá.
Não desmaies.
Obrigado.
Calma.
Devagarinho, vá lá.
Socorro.
Ajudem-me.
Preciso de ajuda.
Chamo-me Aron. Aron Ralston.
Estive preso lá dentro preso por um pedregulho.
Um pouco de água por favor.
Eu cortei o meu braço.
Por favor, um pouco de água.
Obrigado.
- Tem um telemóvel? - Tenho, mas não há rede.
- Devia parar e descansar. - Não.
Tenho que continuar.
Vocês vão? Vão à frente.
A premonição do Aron tornou-se realidade.
Conheceu a sua esposa, Jessica três anos mais tarde.
O seu filho, Leo, nasceu em Fevereiro de 2010.
Aron continua a fazer escalada e Canyoning.
Ele deixa sempre um bilhete a dizer onde foi.